quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O que um lingüista faz?

Certamente a pergunta que os lingüistas mais escutam é a que intitula essa postagem. Eu mesmo já tive de tentar respondê-la várias vezes. A Lingüística é uma disciplina/ciência relativamente nova, e é normal que determinados questionamentos sejam feitos.
Um colega de Biologia uma vez me perguntou: “O que você faz no Mestrado de Lingüística? Passa dois anos estudando gramática?”. Um outro colega, que é por si só um reflexo da falta que “cadeiras humanas” acarretam aos cursos de Ciências Exatas, e acreditando que eu não entenderia o que estava por trás do seu discurso, tentou desvalorizar o curso de Letras com a infeliz afirmação: “Para eu falar bem Português, basta ler a gramática todos os dias”. Sorte dele que não exibiu tamanha ignorância numa aula de Lingüística, porque então haveria um monte de gente a sorrir descontroladamente, e ele ficaria bem envergonhado - brincadeira minha, alunos de Letras sorririam de maneira contida, para não causar desconforto, afinal são “humanos”-. Os lingüistas e os estudantes de Letras não perdem a vida estudando a tradicional gramática normativa.
O que um lingüista faz? Bem… basicamente, no Brasil, os Mestrados em Lingüística formam pessoas para que atuem como professores nos cursos de Letras. Nestes cursos, os lingüistas, além de formar docentes para os ensinos médio e fundamental, desenvolvem pesquisas muitas vezes, mas nem sempre, voltadas para a educação. Um reflexo de seu trabalho são as provas de vestibular que já contemplam textos e interpretação em detrimento das tradicionais e improfícuas questões de gramática. Outra observação: um lingüista não estuda (não necessariamente) uma língua específica, mas sim a linguagem (por vezes, até a não-verbal) e seus mecanismos de produção de sentido.
No exterior, existem os lingüistas forenses. Isso tem a ver com CSI? Tem sim. São cientistas que trabalham tentando solucionar crimes; suas pistas geralmente têm alguma relação com a linguagem (bilhetes, mensagens de celular e outros). Alguns trabalham para agências como o FBI, fazendo escutas telefônicas, usando programas para reconhecimento de voz e coisas afins. Também existem lingüistas auxiliando os cientistas da computação. Pode ter certeza de que, neste exato momento, há lingüistas por aí trabalhando em softwares que processam textos. E não é só isso. Você acha que é possível desenvolver qualquer AI (inteligência artificial) sem auxílio lingüístico? Acredita que é possível fazer a máquina raciocinar num nível humano somente usando números? Que códigos binários vão ajudar um computador a entender contextos, ironias, subtendidos, implícitos e coisas afins? Quem pensa, amigo, pensa numa língua. Também recorrem a teorias lingüísticas: fonoaudiólogos, jornalistas, publicitários, economistas e outros. Os lingüistas atuam em diversas áreas, mas não me prolongarei numa postagem de blog.
Corporativismo à parte, a Lingüística tem sim um papel importante. A minha opinião, inclusive, é a de que, no momento histórico em que vivemos no Brasil, é substancialmente mais importante olhar para os meninos e meninas nas salas de aula do que olhar, por exemplo, para os anéis de Saturno.

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