quarta-feira, 1 de julho de 2009

eira, 30 de Junho de 2009

BIRRA TEM SOLUÇÃO?



Nos meios onde convivo, é comum presenciar cenas de pais que procuram de todas as formas dá fim a uma birra do filho. Supermercados, lojas de brinquedo e até mesmo a escola são os lugares “ mais apropriados” para a ocorrência de uma pirraça, uma vez que fatalmente o querer da criança será limitado pela vontade do adulto, seja por uma impossibilidade financeira, seja devido à necessidade de se realizar alguma atividade.

A birra é, antes de tudo, um indício da incapacidade da criança de lidar com uma frustração. É o último recurso que utiliza pra para convencer pais e/ou professores à realizarem aquilo que ela quer.

A maioria dos pais e muitos professores não sabem como lidar com este tipo de situação. Justamente por isso, caem em dois extremos: ou repreendem a criança com violência – causando mais choro e confusão – ou caem no extremo oposto: realizam o desejo que gerou o conflito.

Como solucionar este tipo de situação de forma equilibrada?

O primeiro passo é compreender que conceder a realização do desejo é a pior das saídas. Uma coisa é realizar o desejo de seu filho quando for possível; outra bem diferente é fazer desta realização uma constante, cada vez que a criança faz uma birra. Muitos pais acreditam que, por trabalharem fora, devem recompensar seus filhos pelo tempo transcorrido fora de casa. O máximo que se consegue agindo assim é desenvolver e solidificar na criança a certeza de que sempre será atendida, a certeza de que seus desejos não possuem limites.

Em uma de suas crônicas para a revista VEJA, a renomada escritora Lya Luft afirmou certa vez que um pai que não está disposto a ser pai (ou seja, exercer as funções de pai) e uma mãe que não está disposta a ser mãe não devem ter filhos. Embora radical em si mesma, a afirmativa é válida

A criança pede limite e vai pedir sempre, até que saiba, por si mesma, o que é certo e o que é errado. A liberdade de agir que um adulto possui surge exatamente do fato de ter escutado um “não” várias e várias vezes ao longo da vida e de ter se adaptado a isso.

Só conseguimos escolher o melhor caminho quando conhecemos o prós e os contras de cada caminho que a vida nos oferece. E isso só é possível quando, lá na infância, nossos pais nos indicam estes perigos por meio do “não”, por meio do limite. Fugir desta regra é criar futuros tiranos; é colocar seu filho frente ao perigo de buscar nas ruas os limites que não foram dados em casa; é colocá-lo completamente desprotegido para atuar no mundo daqui a alguns anos, já que não conhecerá o que existe de risco.

Já perceberam criança muito pequenininha, quando começa a andar? Precisa ser monitoria todo o tempo para que acidentes não aconteçam e para que possa, mais tarde, conquistar a firmeza em seus passos e, assim, conseguir caminhar por conta própria. Assim também acontece a nível psíquico. È preciso “monitorar”; é preciso limitar pra que a independência e a liberdade aconteçam mais tarde.

Por isso, não se sinta culpado por trabalhar fora. Mais importante do que a quantidade é a QUALIDADE do tempo que pais e filhos passam juntos. Aproveite cada segundo com seu filho, dê aquilo que for possível: limite, desloque para um futuro próximo a realização daquilo que a criança pede e procure explicar, em uma linguagem que ela entenda, que nem sempre é possível ter tudo que queremos. Seu filho pode chorar agora; você pode ficar com o coração apertado, mas certamente, mais tarde, os frutos deste ato de amor virão.


IZABELLA GRACY VELOSO NEVES

Psicóloga Clínica pela PUC- MG - CRP /04 20582

Pòs-Graduação em Teoria Psicanalítica pelo Campo Lacaniano - MG


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